Manchas e pintas: entenda como onças-pintadas são identificadas no Pantanal de MT

Escrito em 02/12/2025


Onças flagradas no Pantanal de MT Henrique Olsen/Cedida O avistamento de onças-pintadas no Pantanal de Mato Grosso vem acompanhado de um turbilhão de emoções e, sobretudo, de uma técnica que está sendo aprimorada ano após ano. É a identificação dos felinos por meio das manchas e das pintas nas pelagens. Todo esse cuidado e rigor técnico foi catalogado em um documento do Sesc Pantanal, divulgado no sábado (29), que serve como guia de orientação na Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil (RPPN), em Barão de Melgaço, a 121 km de Cuiabá. As imagens que compõem o guia foram coletadas a partir de 165 armadilhas fotográficas espalhadas dentro da reserva. Ao menos 39 onças foram registradas entre 2020 e 2023, e algumas delas chegaram a ter nomes escolhidos por meio de uma votação popular. Esse número, contudo, não expressa a quantidade de onças que vivem na região, e sim apenas aquelas que foram avistadas. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MT no WhatsApp Para o pesquisador Guilherme Servi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o guia separa as onças por machos e fêmeas, com imagens de diferentes regiões para identificar cada animal, além de árvores genealógicas dos felinos no final do documento. "As onças-pintadas possuem um padrão único de pelagem para cada indivíduo, funcionando como uma impressão digital. Suas pintas e rosetas das laterais do corpo, da face e da cauda formam combinações exclusivas para cada animal", explicou. A iniciativa da catalogação também integra o Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Grupo de Estudos em Vida Silvestre (GEVS) e a Fiocruz. "A expectativa é que no ano que vem possamos divulgar a estimativa populacional de uma área tão importante para a conservação da onça-pintada e do Pantanal como um todo, que é a RPPN Sesc Pantanal", destacou. Mãe e filha na reserva Sesc Pantanal O monitoramento de onças na região também é feito por outros tantos projetos que incentivam o ecoturismo. Um deles é o Jaguar Camp, em que o guia de turismo e gestor ambiental Ailton Lara mantém um extenso catálogo de onças que são fotografadas a cada passeio de barco pelo rio. "Não se trata apenas de ver a onça, mas de conhecer cada indivíduo e sua história. Com base em observação direta e no uso de armadilhas fotográficas, é possível contribuir muito para o conhecimento local e para a experiência dos visitantes", disse. Ele ainda ressaltou que a observação do comportamento dos felinos ajuda a entender a dinâmica deles com o meio ambiente. "Esses guias podem reunir anos de registros de avistamentos, genealogias, interações entre indivíduos, possíveis casos de consanguinidade, formação de coalizões entre machos algo que já observamos algumas vezes, além de interações agonísticas, acasalamentos de machos com fêmeas que ainda têm filhotes (incluindo casos de falso cio como estratégia de proteção), entre outros comportamentos que ajudam a entender a dinâmica de cada indivíduo". Para Lara, a população só é capaz de proteger a natureza e os animais a partir do momento em que passa a conhecê-los. "Você só protege aquilo que ama e amar é o primeiro passo para proteger", acrescentou. 🐆Como identificar uma onça? Segundo a 12ª edição da coletânea "Conhecendo o Pantanal", cada onça-pintada possui uma combinação única de manchas, que são chamadas de rosetas, e pintas em sua pelagem, de acordo com o guia. Apesar das rosetas serem semelhantes, a combinação é exclusiva para cada onça, assim como as impressões digitais dos seres humanos (veja exemplo a seguir). Entenda como identificar uma onça-pintada no Pantanal de MT Sesc Pantanal O pesquisador Servi explica como proceder ao avistar, de longe, uma onça para ser identificada. "Ao vê-lo, pode-se tirar fotos do animal e marcar a localização. Depois, o fluxo a ser seguido é folhear o guia buscando por onças já encontradas naquele local ou nas proximidades. Se for possível definir o sexo da onça, o leitor já refina sua busca para a seção de machos ou fêmeas. E, a partir daí, a tarefa é procurar uma correspondência entre as fotos tiradas com as onças do guia que melhor se enquadrem no perfil", orientou. Para identificar visualmente cada roseta ou um conjunto delas, a forma que elas são associadas pode facilitar nesse achado, como a forma de um sol ou de um triângulo. "Uma vez associada, essa roseta serve como uma referência e, a partir dela, podemos observar seu entorno e definir se há ou não uma correspondência. Cada flanco possui um padrão distinto. Por isso, o ideal é visualizar ambos os lados de um indivíduo. Nem sempre isso é possível, então podemos recorrer a outras regiões corporais", diz a explicação de um trecho do guia. As partes mais importantes de identificação de uma onça são os perfis, como a testa e a face, e o traseiro, que inclui a cauda. "Essas regiões também possuem manchas características que possibilitam a individualização. Uma boa visualização lateral ou do flanco traseiro também permite a confirmação do sexo do indivíduo", destaca o guia. Manchas e pintas de uma onça-pintada no Pantanal de MT Sesc Pantanal O que pode atrapalhar nesse processo é a iluminação e o ângulo da foto. Isso porque pode alterar a forma com que se visualiza as rosetas. "Por isso, antes de dar um veredito a respeito da identidade de uma onça, é fundamental ter várias correspondências entre as rosetas da sua imagem de interesse com as imagens de referência", esclarece o documento. Este trabalho, nos próximos anos, deve ser cada vez mais ampliado, segundo Servi. "A expectativa para os próximos anos é expandir o alcance do guia e possibilitar o uso de dados de Ciência Cidadã e registros obtidos por turistas para ampliar o guia e aumentar o escopo do monitoramento das onças-pintadas na região da reserva", conclui. 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