Fenômeno de Lola, religiosa que teria sobrevivido mais de 60 anos só com hóstias, é estudado por pesquisadores da UFJF

Escrito em 11/11/2025


Lola caiu de um pé de jabuticaba e alimentou somente de hóstia por mais de 60 anos Reprodução Um estudo feito pelo Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), deve concluir no fim do ano uma pesquisa sobre Floripes Dornelas de Jesus, a Lola, religiosa mineira conhecida por alimentar-se somente de hóstia por mais de 60 anos. O foco do grupo é avaliar a inédia, estado de abstinência total ou parcial de alimentos por um período prolongado. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Zona da Mata no WhatsApp Para o médico psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, que coordena a pesquisa, o objetivo é identificar pessoas que conviveram intimamente com Lola, como médicos, padres, vizinhos e parentes “A ideia chegar até essas pessoas que conviveram intimamente de modo regular por longo tempo com ela, que possam nos dar informações mais detalhadas do modo de vida, da possibilidade de acesso dela a alimentos, assim como descrever o seu comportamento”. “Estamos buscando principalmente o caso de inédia, que é justamente esse relato de que ela teria ficado aproximadamente 60 anos sem se alimentar, sem ingerir líquidos, sem dormir e também sem produzir excretas, ou seja, urina ou fezes ao longo deste período. Estamos tentando unificar o máximo de informações nesse sentido. Tem colaborado com a nossa pesquisa o doutor Cláudio Bomtempo, geriatra e professor da Faculdade de Medicina de Barbacena, que foi médico dela e a acompanhou intimamente nos últimos anos, e também já publicou um livro sobre ela”, explicou. Além de Alexander Moreira-Almeida, participam do estudo da UFJF o gastroenterologista Julio Chebli e o estudante de medicina Caio Almeida. Alexander Moreira-Almeida, Caio Almeida e Julio Chebli são os participantes da pesquisa do Nupes Arquivo pessoal Jejum que intriga a Ciência Nascida em Mercês, em 27 de junho de 1911, Lola caiu de um pé de jabuticaba, lesionando a coluna. Acamada, viveu no sítio da família, em Rio Pomba, recebendo poucas visitas. Anos depois, passou a alimentar-se somente de hóstia e assim teria permanecido por mais de 60 anos. Desde então, a questão passou a intrigar a Ciência. “O grande desafio em relação ao caso de inédia, especialmente ao da Lola, é que eles desafiam totalmente o conhecimento que nós possuímos. Primeiro, porque nosso corpo precisa de energia a partir de calorias que ingerimos. Têm também fontes metabólicas, fontes de proteínas, fontes de eletrólitos, vitaminas, etc. Além disso, a necessidade de eliminar excretas. O relato é que ela teria se alimentado apenas de uma hóstia por dia, o que obviamente seria insuficiente”, avaliou Alexander Moreira-Almeida. “O nosso momento agora não é nem tanto identificar possíveis mecanismos, mas tentar verificar se há evidências substanciais robustas ou não de que efetivamente essa inédia”. Outros estudos realizados pela UFJF Segundo o diretor do Nupes, também estão sendo investigados documentos médicos, exames, relatórios, reportagens, assim como mestrados, dissertações de mestrado, tese de doutorado e artigos científicos publicados sobre a religiosa. “Há outros estudos da UFJF, mas na área de humanidades, em que investigaram muito o aspecto religioso, espiritual, o impacto que ela teve sobre as pessoas, o que é algo extremamente importante. No nosso ponto de vista, mais do ponto de vista médico, nós estamos investigando esse aspecto fisiológico da inédia”. Floripes Dornelas de Jesus, a Lola Redes Sociais/Reprodução “Além disso, também na pesquisa nós estamos coletando outros dados sobre as experiências espirituais que ela teve e também o impacto disso sobre as pessoas. Isso também é outra área que nós vamos investigar mais para frente. Mas o fato, o que é importante, é que essas várias pesquisas se complementam, dando várias perspectivas para um fenômeno tão complexo”. Católicos pedem pela canonização Diversos milagres são atribuídos à Lola, que, ainda nos primeiros anos após a queda da jabuticabeira, passou a receber alguns romeiros em seu sítio. Com o passar dos anos, o local passou a ser ponto de peregrinação e até hoje, 26 anos após a morte dela, reúne centenas de fiéis em várias atividades religiosas. Seu modo de vida — sem comer, andar, dormir e fazer necessidades fisiológicas — foram a transformando em santidade. Confiram fotos do Recando da Lola, em Rio Pomba Em 2005, Lola recebeu o título de 'Serva de Deus' pela Santa Sé Apostólica e teve aberto o processo de beatificação. Em abril deste ano, o arcebispo de Mariana, Dom Airton José dos Santos, nomeou o padre Rodney Francisco Reis da Silva como postulador da causa de beatificação, e o próximo passo será a instauração do Tribunal Eclesiástico para a fase de Diocesana. Segundo o pesquisador Alexander Moreira-Almeida, o objetivo do estudo da UFJF não é ser a favor ou contra à canonização. “O nosso papel é investigar de modo independente, rigoroso, mas respeitoso e aberto, este fenômeno. Não temos nenhuma conclusão pré-estabelecida, nem de que existe, nem de que não existiu. Estamos tentando buscar o máximo de evidências que possam confirmar ou desconfirmar a experiência. Naturalmente, a Igreja tem os seus processos internos e é possível também que eles utilizem as pesquisas científicas que estão sendo desenvolvidas”. 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