COP30 termina com gosto amargo, mas traz avanços A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) encerrou-se com um alerta claro da ciência. O balanço das negociações mostra que o mundo 'falhou' em cumprir os objetivos climáticos estabelecidos até aqui. Os cientistas presentes trouxeram uma mensagem inequívoca: para evitar um colapso climático, duas medidas urgentes são cruciais. A primeira medida urgente para combater o colapso climático é proteger e restaurar todas as florestas do mundo. As florestas têm a função essencial de limpar a atmosfera, removendo quase um terço dos gases de aquecimento emitidos anualmente. Especialistas ouvidos pelo Fantástico, da TV Globo, explicam que desmatar prejudica muito a capacidade das florestas de remover gás carbônico (veja vídeo acima). Por isso, o rascunho global propôs zerar o desmatamento até 2030 e promover a regeneração. Já a segunda recomendação central era definir prazos para acabar com os combustíveis fósseis. Petróleo, gás e carvão são responsáveis por 75% das emissões de gases de efeito estufa. O uso continuado desses combustíveis ameaça ultrapassar limites planetários, causando o derretimento sem controle das geleiras, a morte dos corais e o colapso de correntes marinhas vitais para o resfriamento do clima. No entanto, a situação é dramática, pois "é essencialmente inevitável ultrapassar 1,5 grau de aquecimento nos próximos 5 a 10 anos", como afirma Johan Rockstrom, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático. O limite de 1,5 grau foi estabelecido pela ciência para evitar que os limites planetários sejam ultrapassados. O cenário exige aceitar que "fracassamos até aqui". Cinco anos após 2020, as emissões de gases de efeito estufa ainda estão aumentando. A melhor solução que a ciência pode oferecer é limitar esse pico de aquecimento a, no máximo, 1,7 grau, antes que a temperatura volte a cair até o fim do século. Para que isso ocorra, seria preciso reduzir as emissões em 5% ao ano, todos os anos, começando imediatamente. COP 30 em Belém Photo/Fernando Llano Apesar do tom de fracasso, as negociações globais tiveram impacto. Se o ritmo de crescimento das emissões tivesse se mantido igual ao da primeira COP, o planeta já estaria 2 graus mais aquecido e chegaria ao fim do século com 4 graus. Com as COPs, as emissões continuaram a crescer, mas num ritmo mais lento. Enquanto isso, os movimentos sociais voltaram a ocupar o espaço das negociações, garantindo vitórias paralelas. Quando a COP veio para a Amazônia, a Amazônia ocupou a COP. Os indígenas asseguraram a demarcação de 10 territórios. Além disso, o fundo proposto pelo Brasil para proteger florestas tropicais já acumulou mais de 32 bilhões de reais. No campo político, o plano de ação mais ambicioso recebeu apoio de mais de 80 países. No entanto, Arábia Saudita, China e Índia lideraram o boicote a qualquer menção de prazos para o fim dos combustíveis fósseis. As discussões tensas foram interrompidas por um incidente com fogo, que paralisou a conferência por seis horas, gerando noites sem sono e um dia a mais de negociações. Apesar da urgência científica, a COP terminou sem sequer mencionar o fim dos combustíveis fósseis e a importância das florestas no texto oficial. O Brasil, que mantém a presidência até novembro do próximo ano, se comprometeu a trabalhar para que esses temas primordiais entrem no documento da próxima COP. Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.
COP termina sem acordo sobre combustíveis fósseis enquanto ciência prevê aquecimento acima de 1,5°C
Escrito em 24/11/2025
COP30 termina com gosto amargo, mas traz avanços A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) encerrou-se com um alerta claro da ciência. O balanço das negociações mostra que o mundo 'falhou' em cumprir os objetivos climáticos estabelecidos até aqui. Os cientistas presentes trouxeram uma mensagem inequívoca: para evitar um colapso climático, duas medidas urgentes são cruciais. A primeira medida urgente para combater o colapso climático é proteger e restaurar todas as florestas do mundo. As florestas têm a função essencial de limpar a atmosfera, removendo quase um terço dos gases de aquecimento emitidos anualmente. Especialistas ouvidos pelo Fantástico, da TV Globo, explicam que desmatar prejudica muito a capacidade das florestas de remover gás carbônico (veja vídeo acima). Por isso, o rascunho global propôs zerar o desmatamento até 2030 e promover a regeneração. Já a segunda recomendação central era definir prazos para acabar com os combustíveis fósseis. Petróleo, gás e carvão são responsáveis por 75% das emissões de gases de efeito estufa. O uso continuado desses combustíveis ameaça ultrapassar limites planetários, causando o derretimento sem controle das geleiras, a morte dos corais e o colapso de correntes marinhas vitais para o resfriamento do clima. No entanto, a situação é dramática, pois "é essencialmente inevitável ultrapassar 1,5 grau de aquecimento nos próximos 5 a 10 anos", como afirma Johan Rockstrom, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático. O limite de 1,5 grau foi estabelecido pela ciência para evitar que os limites planetários sejam ultrapassados. O cenário exige aceitar que "fracassamos até aqui". Cinco anos após 2020, as emissões de gases de efeito estufa ainda estão aumentando. A melhor solução que a ciência pode oferecer é limitar esse pico de aquecimento a, no máximo, 1,7 grau, antes que a temperatura volte a cair até o fim do século. Para que isso ocorra, seria preciso reduzir as emissões em 5% ao ano, todos os anos, começando imediatamente. COP 30 em Belém Photo/Fernando Llano Apesar do tom de fracasso, as negociações globais tiveram impacto. Se o ritmo de crescimento das emissões tivesse se mantido igual ao da primeira COP, o planeta já estaria 2 graus mais aquecido e chegaria ao fim do século com 4 graus. Com as COPs, as emissões continuaram a crescer, mas num ritmo mais lento. Enquanto isso, os movimentos sociais voltaram a ocupar o espaço das negociações, garantindo vitórias paralelas. Quando a COP veio para a Amazônia, a Amazônia ocupou a COP. Os indígenas asseguraram a demarcação de 10 territórios. Além disso, o fundo proposto pelo Brasil para proteger florestas tropicais já acumulou mais de 32 bilhões de reais. No campo político, o plano de ação mais ambicioso recebeu apoio de mais de 80 países. No entanto, Arábia Saudita, China e Índia lideraram o boicote a qualquer menção de prazos para o fim dos combustíveis fósseis. As discussões tensas foram interrompidas por um incidente com fogo, que paralisou a conferência por seis horas, gerando noites sem sono e um dia a mais de negociações. Apesar da urgência científica, a COP terminou sem sequer mencionar o fim dos combustíveis fósseis e a importância das florestas no texto oficial. O Brasil, que mantém a presidência até novembro do próximo ano, se comprometeu a trabalhar para que esses temas primordiais entrem no documento da próxima COP. Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.

