Achado inédito na Amazônia: pegadas de dinossauros Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) estimam que há mais de 100 pegadas fossilizadas de dinossauros na região da bacia sedimentar do rio Tacutu, em Bonfim, município ao Norte de Roraima. As marcas têm mais de 100 milhões de anos e foram confirmadas pelos cientistas após 14 anos de estudos. As primeiras pegadas foram encontradas em 2011, durante um mapeamento geológico na região. O estudo é considerado pelos pesquisadores como o mais diverso a registrar pegadas dos animais pré-históricos na Amazônia. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 RR no WhatsApp Entenda o que é bacia sedimentar: área em que ao longo dos anos se acumulam camadas de sedimentos como areia, argila, cascalho e restos orgânico e se compactam formando rochas sedimentares, que podem preservar fósseis, minerais e registros geológicos importantes sobre o passado da Terra — neste caso, as pegadas dos dinossauros. Durante os anos de pesquisa, a equipe fez cerca de 80 coletas de campo, com pelo menos uma pegada identificada em cada, segundo o pesquisador Lucas Barros, mestre em Ciências Biológicas, um dos principais responsáveis pelo estudo. "Nós já fizemos pelo menos 80 coletas e dessas nós vamos ter aí pelo menos uma pegada em cada coleta, em cada modelo digitalizado. Mas nós estimamos, por existirem diversas outras localidades, que a gente tenha mais de 100 pegadas, talvez ali na casa de algumas centenas de pegadas. Só que a maioria não está bem preservada", explicou Lucas. O estudo tem evidências de quatro grupos de dinossauros: ornitópodes, saurópodes, terópodes e tireóforos, mas ainda não é possível determinar exatamente quais espécies viveram na região. Segundo o pesquisador, a comparação é feita com grupos maiores e, quando possível, elas são classificadas em morfotipos, tipos de pegadas que refletem diferentes grupos. "Por exemplo, em sauropoda, sabemos que a grande maior parte desses animais era de proporções gigantescas, e que suas patas geralmente deixavam pegadas arredondadas, às vezes com os cinco dígitos preservados”, ressaltou. ➡️ Algumas pegadas indicam animais com mais de 10 metros de comprimento. Outras pertencem a dinossauros com três dedos. Em alguns locais estudados, há trilhas que ultrapassam 30 metros de comprimento. Pesquisadores identificaram trilhas com pegadas de dinossauros no Norte de Roraima. JPavani/Reprodução LEIA TAMBÉM: Pesquisadores descobrem pegadas de dinossauros de 167 milhões de anos Pesquisa inédita descobre rastros de dinossauros na Amazônia Os fantásticos pterossauros que viveram no Brasil há milhões de anos Um dos mais interessantes, segundo Lucas, envolve o dromeosaurídeo, família de dinossauro do grupo terópode. O estudo estima que animais do mesmo grupo e de tamanho semelhante viveram na região. "Nós temos na América do Norte o Utahraptor, que é um dos maiores raptores que foram já descritos e nós estimamos, eu estimo no trabalho, que nós tínhamos dinossauros pelo menos do tamanho dele, desse mesmo grupo de dinossauros", disse. 'Pegadas brasileiras' Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) encontram pegadas de dinossauro em Roraima. JPavani/Reprodução O processo de pesquisa seguiu critérios científicos rigorosos, com participação de alunos e especialistas em icnologia, área que estuda pegadas fósseis. Depois de identificar uma pegada, a equipe limpou o local, fotografou e criou um modelo 3D em escala real. O método, chamado fotogrametria, permite digitalizar as marcas com precisão e preservar detalhes. Com o modelo pronto, o material foi comparado a registros científicos de outros locais do mundo. De acordo com o pesquisador, a etapa bibliográfica ajudou a relacionar as pegadas de Roraima a espécies já estudadas. Pegadas de dinossauros são encontradas no Norte de Roraima. JPavani/Reprodução As pegadas foram encontradas apenas na região de Bonfim, na Formação Serra do Tucano, uma camada rochosa que ocorre no lado brasileiro da bacia do Tacutu. Até o momento, não há registros na Guiana, o que torna as pegadas exclusivamente brasileiras, segundo o pesquisador. O estudo foi submetido a revista cientifica Cretaceous Research em 2024 e está em fase de revisão. O artigo cientifico começou com um projeto de iniciação científica realizado ao final da graduação de Lucas Barros, em 2021, com apoio da Universidade Federal de Roraima. Durante o mestrado, o trabalho também teve apoio do pesquisador Felipe Pinheiro, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). O projeto contou com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e recursos próprios. 14 anos de estudo As primeiras pegadas na região foram identificadas em 2011 pelo geólogo e doutor em bioestratigrafia, Vladimir de Souza, durante o mapeamento geológico na região com alunos do curso de geologia da UFRR. As pegadas estavam preservadas em lajedos, grandes extensões de rochas expostas. Os pesquisadores estimam que elas tenham sido deixadas entre 103 e 127 milhões de anos atrás. O estudo inédito levou 14 anos para confirmar que as pegadas eram dos dinossauros. Conduzido por Vladimir e os pesquisadores Carlos Eduardo Vieira, doutor em geociências, e Lucas Barros, aponta que as pegadas pertencem a dinossauros carnívoros e herbívoros. Pegadas de dinossauros encontradas em Roraima são estudadas há mais de 10 anos. JPavani/Reprodrução A região onde foram encontradas as pegadas é formada por rochas sedimentares do grupo dos arenitos, resultado da deposição de camadas de areia. O estudo indica que, no passado, o local era uma planície de inundação ou uma área semiárida, com pouca água e muita areia. As pegadas indicam, segundo os pesquisadores, que os dinossauros não apenas cruzaram a região, mas sugere que viveram onde hoje fica Roraima. Algumas delas foram criadas enquanto os dinossauros herbívoros migravam em manadas, seguidos por carnívoros. Há também marcas de nado e escavações, que reforçam a hipótese de que eles habitavam o local. "Isso é possível ver no campo. Você vê pegadas dos herbívoros mais ao centro e, na periferia, dá pra identificar as pegadas dos raptores, seguindo essas manadas. É uma coisa muito interessante. Claro, era outro ambiente, e os dinossauros não passaram, eles viviam aqui", disse Vladimir. Vladimir classificou a descoberta como inédita no Norte do Brasil. Segundo ele, praticamente não há registros de dinossauros na Amazônia, e as pegadas representam um grande avanço para colocar Roraima em destaque nas pesquisas sobre dinossauros no país. O Brasil já tem registros de pegadas de dinossauros em outras regiões, como o Nordeste, Sudeste e Sul. Geólogo Vladimir de Souza encontrou primeiras pegadas em 2011. JPavani/Reprodução Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.
Amazônia dos dinossauros: estudo inédito estima mais de 100 pegadas fossilizadas em Roraima
Escrito em 28/10/2025
Achado inédito na Amazônia: pegadas de dinossauros Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) estimam que há mais de 100 pegadas fossilizadas de dinossauros na região da bacia sedimentar do rio Tacutu, em Bonfim, município ao Norte de Roraima. As marcas têm mais de 100 milhões de anos e foram confirmadas pelos cientistas após 14 anos de estudos. As primeiras pegadas foram encontradas em 2011, durante um mapeamento geológico na região. O estudo é considerado pelos pesquisadores como o mais diverso a registrar pegadas dos animais pré-históricos na Amazônia. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 RR no WhatsApp Entenda o que é bacia sedimentar: área em que ao longo dos anos se acumulam camadas de sedimentos como areia, argila, cascalho e restos orgânico e se compactam formando rochas sedimentares, que podem preservar fósseis, minerais e registros geológicos importantes sobre o passado da Terra — neste caso, as pegadas dos dinossauros. Durante os anos de pesquisa, a equipe fez cerca de 80 coletas de campo, com pelo menos uma pegada identificada em cada, segundo o pesquisador Lucas Barros, mestre em Ciências Biológicas, um dos principais responsáveis pelo estudo. "Nós já fizemos pelo menos 80 coletas e dessas nós vamos ter aí pelo menos uma pegada em cada coleta, em cada modelo digitalizado. Mas nós estimamos, por existirem diversas outras localidades, que a gente tenha mais de 100 pegadas, talvez ali na casa de algumas centenas de pegadas. Só que a maioria não está bem preservada", explicou Lucas. O estudo tem evidências de quatro grupos de dinossauros: ornitópodes, saurópodes, terópodes e tireóforos, mas ainda não é possível determinar exatamente quais espécies viveram na região. Segundo o pesquisador, a comparação é feita com grupos maiores e, quando possível, elas são classificadas em morfotipos, tipos de pegadas que refletem diferentes grupos. "Por exemplo, em sauropoda, sabemos que a grande maior parte desses animais era de proporções gigantescas, e que suas patas geralmente deixavam pegadas arredondadas, às vezes com os cinco dígitos preservados”, ressaltou. ➡️ Algumas pegadas indicam animais com mais de 10 metros de comprimento. Outras pertencem a dinossauros com três dedos. Em alguns locais estudados, há trilhas que ultrapassam 30 metros de comprimento. Pesquisadores identificaram trilhas com pegadas de dinossauros no Norte de Roraima. JPavani/Reprodução LEIA TAMBÉM: Pesquisadores descobrem pegadas de dinossauros de 167 milhões de anos Pesquisa inédita descobre rastros de dinossauros na Amazônia Os fantásticos pterossauros que viveram no Brasil há milhões de anos Um dos mais interessantes, segundo Lucas, envolve o dromeosaurídeo, família de dinossauro do grupo terópode. O estudo estima que animais do mesmo grupo e de tamanho semelhante viveram na região. "Nós temos na América do Norte o Utahraptor, que é um dos maiores raptores que foram já descritos e nós estimamos, eu estimo no trabalho, que nós tínhamos dinossauros pelo menos do tamanho dele, desse mesmo grupo de dinossauros", disse. 'Pegadas brasileiras' Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) encontram pegadas de dinossauro em Roraima. JPavani/Reprodução O processo de pesquisa seguiu critérios científicos rigorosos, com participação de alunos e especialistas em icnologia, área que estuda pegadas fósseis. Depois de identificar uma pegada, a equipe limpou o local, fotografou e criou um modelo 3D em escala real. O método, chamado fotogrametria, permite digitalizar as marcas com precisão e preservar detalhes. Com o modelo pronto, o material foi comparado a registros científicos de outros locais do mundo. De acordo com o pesquisador, a etapa bibliográfica ajudou a relacionar as pegadas de Roraima a espécies já estudadas. Pegadas de dinossauros são encontradas no Norte de Roraima. JPavani/Reprodução As pegadas foram encontradas apenas na região de Bonfim, na Formação Serra do Tucano, uma camada rochosa que ocorre no lado brasileiro da bacia do Tacutu. Até o momento, não há registros na Guiana, o que torna as pegadas exclusivamente brasileiras, segundo o pesquisador. O estudo foi submetido a revista cientifica Cretaceous Research em 2024 e está em fase de revisão. O artigo cientifico começou com um projeto de iniciação científica realizado ao final da graduação de Lucas Barros, em 2021, com apoio da Universidade Federal de Roraima. Durante o mestrado, o trabalho também teve apoio do pesquisador Felipe Pinheiro, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). O projeto contou com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e recursos próprios. 14 anos de estudo As primeiras pegadas na região foram identificadas em 2011 pelo geólogo e doutor em bioestratigrafia, Vladimir de Souza, durante o mapeamento geológico na região com alunos do curso de geologia da UFRR. As pegadas estavam preservadas em lajedos, grandes extensões de rochas expostas. Os pesquisadores estimam que elas tenham sido deixadas entre 103 e 127 milhões de anos atrás. O estudo inédito levou 14 anos para confirmar que as pegadas eram dos dinossauros. Conduzido por Vladimir e os pesquisadores Carlos Eduardo Vieira, doutor em geociências, e Lucas Barros, aponta que as pegadas pertencem a dinossauros carnívoros e herbívoros. Pegadas de dinossauros encontradas em Roraima são estudadas há mais de 10 anos. JPavani/Reprodrução A região onde foram encontradas as pegadas é formada por rochas sedimentares do grupo dos arenitos, resultado da deposição de camadas de areia. O estudo indica que, no passado, o local era uma planície de inundação ou uma área semiárida, com pouca água e muita areia. As pegadas indicam, segundo os pesquisadores, que os dinossauros não apenas cruzaram a região, mas sugere que viveram onde hoje fica Roraima. Algumas delas foram criadas enquanto os dinossauros herbívoros migravam em manadas, seguidos por carnívoros. Há também marcas de nado e escavações, que reforçam a hipótese de que eles habitavam o local. "Isso é possível ver no campo. Você vê pegadas dos herbívoros mais ao centro e, na periferia, dá pra identificar as pegadas dos raptores, seguindo essas manadas. É uma coisa muito interessante. Claro, era outro ambiente, e os dinossauros não passaram, eles viviam aqui", disse Vladimir. Vladimir classificou a descoberta como inédita no Norte do Brasil. Segundo ele, praticamente não há registros de dinossauros na Amazônia, e as pegadas representam um grande avanço para colocar Roraima em destaque nas pesquisas sobre dinossauros no país. O Brasil já tem registros de pegadas de dinossauros em outras regiões, como o Nordeste, Sudeste e Sul. Geólogo Vladimir de Souza encontrou primeiras pegadas em 2011. JPavani/Reprodução Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.

