Jovem precisa falar e se movimentar durante cirurgia para retirar tumor no cérebro Foi pela coincidência do acaso – ou pela ironia do destino – que Amaro e Amara se encontraram há mais de duas décadas, numa festa no Norte. Daquele encontro nasceram cinco filhos: três meninos, uma menina e Flávio, penúltimo da casa. Aos 24 anos, ele mora em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, com o pai e o irmão Clebson, o único com quem ainda divide o teto. A mãe morreu em 2019, por complicações de um câncer de colo de útero. Coube ao pai terminar de criar os meninos. Naquele dia, porém, ele não pôde ir ao hospital. Tinha quebrado o ombro ao subir num banco de praça, assustado com um pinscher que cruzou seu caminho. O cachorro nem chegou a esbravejar estridentemente, como é de costume da raça; bastou existir para que Amaro escorregasse de pavor. “Ele morre de medo de cachorro”, ri o filho. Flávio se descreve como um “velho no corpo de um jovem”. Caseiro, avesso a festas, prefere a rotina de chegar do trabalho, fechar a porta do quarto e assistir a filmes de terror. As bandas de que gosta — Raul Seixas, Metallica, Scorpions — poderiam estar num som automotivo dos anos 90. A série favorita, porém, é um fenômeno recente: contava os dias para a próxima temporada de Stranger Things. De todos os irmãos, é o que mais dorme cedo. O que menos sai. O que tem um gato. O gosto pelo Corinthians, bom, esse ele divide com todos os outros. Todas essas histórias, Flávio contou ao g1 enquanto médicos operavam seu cérebro. Naquela manhã, no centro cirúrgico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ele passava pela terceira remoção de um glioblastoma — o tumor cerebral mais agressivo conhecido, um tipo de câncer que nasce nas células gliais e avança pelo cérebro como névoa infiltrada na matéria. É raro, traiçoeiro e reincidente. No caso dele, voltou duas vezes em menos de dois anos. A equipe sabia que a lesão crescia perigosamente próxima às áreas responsáveis pela linguagem e pelos movimentos do braço e da perna direita. Sabia, também, que não há margens de segurança no cérebro: retirar demais compromete a fala, a marcha, a identidade; retirar de menos antecipa a próxima recidiva. É o equilíbrio mais delicado da neurocirurgia. Por isso, a decisão: operar acordado, seguindo cada resposta do paciente como um mapa vivo. Antes de entrar na sala, Flávio assinou o termo que permitia que o g1 acompanhasse e registrasse o procedimento. Talyta Vespa/g1 Sem pressa Dez pessoas se organizaram ao redor da mesa cirúrgica — anestesista, enfermeiros, instrumentadoras, neurofisiologista, neuropsicóloga, residentes e o neurocirurgião Helder Picarelli, responsável pelo caso. Antes de rasparem a cabeça e começarem a higienização, Picarelli se respaldou no humor para quebrar a rigidez da sala: avisou que mexeria no cérebro de Flávio para transformá-lo de corintiano em palmeirense. A neurofisiologista Jessie Medeiros, também corintiana, protestou. “Não vou deixá-lo fazer isso, Flávio”. Todos riram. A cena mínima, quase deslocada do contexto, cumpriu o papel de lembrar que, por trás dos monitores e das luzes frias, havia ali um garoto de 24 anos tentando se equilibrar entre medo e obediência. Entrou na sala sonolento, enquanto a equipe posicionava o neuronavegador — um aparelho em forma de caneta que mapeia, ponto a ponto, a anatomia exibida na ressonância 3D. Na tela à frente da maca, a imagem contrastada mostrava o tumor como um bloco irregular embutido na profundidade do hemisfério esquerdo. Três horas se passaram entre marcações, sedação inicial e montagem dos equipamentos que monitorariam cada contração muscular. E então o crânio foi aberto. Quando o osso cedeu e o cérebro apareceu sob o microscópio, projetado em tempo real na tela da sala, o sedativo começou a ser reduzido. Flávio despertava devagar, num sono que imitava o fisiológico: respondia quando chamado; adormecia quando deixado em silêncio. A neuropsicóloga o chamava pelo nome, confirmava data de nascimento, perguntava onde morava. Ele dizia Guarulhos. Dizia que tinha visto A Freira. Que gostava de Riverdale. Que esperava ansioso a próxima temporada de Stranger Things. Nada disso era conversa solta. Eram checkpoints — provas contínuas de que a linguagem seguia íntegra, de que o raciocínio encadeava, de que a memória recuperava palavras sem tropeço. No centro da sala, cada resposta correta era um território seguro. Cada hesitação, um possível aviso. Enquanto falava, Flávio mexia os dedos, fechava a mão, esticava o pé, levantava a perna. A neurofisiologista observava o monitor, onde pequenas ondas elétricas surgiam quando regiões específicas do córtex eram estimuladas. Com o neuroestimulador — uma sonda fina que libera pulsos elétricos — Picarelli tocava áreas motoras, esperando que a mão contraísse, que o bíceps reagisse, que a perna acelerasse. Era um sistema de segurança de tudo ou nada: se o músculo não respondia, algo estava errado. A cada avanço no tumor, o processo se repetia: braço, mão, perna, fala, desenhos, contagem. O tumor era retirado por partes, interrompendo sempre que necessário para confirmar se o cérebro continuava ali — inteiro, funcionando, reconhecendo, nomeando. Neurocirurgia no paciente Flavio Amaro Talyta Vespa/g1 A difícil remoção de um glioblastoma O glioblastoma não se comporta como um nódulo sólido que se destaca do tecido; infiltra-se como um véu difuso e precisa ser removido em fragmentos, um recorte por vez, seguindo as bordas irregulares que se escondem entre as dobras profundas do cérebro. A neuropsicóloga mostrava figuras que Flávio precisava identificar. Ele acertava todas. No pé, fazia o movimento de “acelerar”. No braço, levantava devagar. No rosto, lutava contra o sono profundo que insistia em puxá-lo para baixo. “Flávio, está com sono? Preciso de você acordado, essa parte é importante”, pedia Picarelli. As médicas chamavam seu nome sempre que a sedação se aproximava do limite aceitável. Em certo momento, disse que a cabeça doía exatamente onde o cirurgião mexia. A dor não vinha do tecido cerebral — esse não dói —, mas da membrana profunda, enervada, que reage ao toque e à coagulação. Anestésico demais naquela área seria tóxico para o próprio cérebro. Foi preciso ajustar sedação e analgesia, explica Picarelli, como quem regula a tensão de um fio. O neurocirurgião avançava devagar, sempre a milímetros das regiões mais críticas. A equipe seguia o monitor com atenção contínua: qualquer alteração nas ondas captadas pelos eletrodos distribuídos em músculos do braço, do antebraço, da perna ou do pé poderia indicar que o estímulo elétrico havia tocado fibras motoras que precisavam ser preservadas. Tudo seguia responsivo. A retirada levou cerca de cinco horas. Quando a última porção foi separada do tecido saudável, a sala ficou silenciosa — uma suspensão breve, quase instintiva, mas comum em cirurgias em que cada milímetro define um desfecho. No neuronavegador, a reconstrução tridimensional confirmava o que Picarelli via pelo microscópio: toda a porção visível do glioblastoma havia sido removida. Flávio seguia acordado. Cansado, mas presente. O braço levantava quando solicitado; o pé acelerava no ritmo pedido; a fala seguia firme. No Teste de Nomeação de Boston — uma sequência de figuras apresentadas em cartões para avaliar a capacidade de recuperar palavras — ele havia acertado todas as imagens mostradas durante o procedimento. Com esses parâmetros estáveis, a equipe pôde aprofundar a sedação para o fechamento. O fim é o começo “A cirurgia não acabou; na verdade, começou agora”, explicou Picarelli. Ele se refere ao pós-operatório imediato, onde o risco ainda existe: sangramentos tardios, edema cerebral, infecções, alterações de pressão intracraniana, convulsões. Nas primeiras horas, Flávio seria monitorado pela enfermagem e pela neurocirurgia para sinais de força preservada, simetria facial, compreensão de comandos simples e estabilidade hemodinâmica. Naquela tarde, se não houvesse intercorrências, ele acordaria bem. Teria alta em dois dias, com a recomendação de retorno em dez para retirada dos pontos e avaliação da cicatrização. Como é padrão no tratamento de glioblastomas, a etapa seguinte deve incluir ajuste da quimioterapia — ele estava no terceiro ciclo quando a recidiva surgiu — e discussão sobre possibilidade de reirradiação ou outras terapias adjuvantes. O prognóstico, como em todos os glioblastomas, depende do intervalo até a próxima recidiva, da resposta aos ciclos seguintes e da manutenção das funções neurológicas. A cirurgia acordada cumpriu exatamente essa meta: preservar a linguagem, o movimento e a autonomia. Flávio deixou o hospital com tudo isso intacto. Naquele centro cirúrgico, o essencial foi garantido: avançar o máximo possível sobre o glioblastoma sem ultrapassar o limite que custaria autonomia. Continuava capaz de levantar o braço, esticar a perna, reconhecer figuras, nomear objetos, lembrar datas, contar de um a dez. Continuava apto a voltar para Guarulhos, dividir o teto com o pai e com Clebson, escutar Metallica no quarto e esperar a próxima temporada de Stranger Things. O restante agora corre fora da sala, no tempo lento da oncologia.
'Não durma': como é a cirurgia no cérebro em que o paciente precisa ficar acordado, falar e se movimentar
Escrito em 04/12/2025
Jovem precisa falar e se movimentar durante cirurgia para retirar tumor no cérebro Foi pela coincidência do acaso – ou pela ironia do destino – que Amaro e Amara se encontraram há mais de duas décadas, numa festa no Norte. Daquele encontro nasceram cinco filhos: três meninos, uma menina e Flávio, penúltimo da casa. Aos 24 anos, ele mora em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, com o pai e o irmão Clebson, o único com quem ainda divide o teto. A mãe morreu em 2019, por complicações de um câncer de colo de útero. Coube ao pai terminar de criar os meninos. Naquele dia, porém, ele não pôde ir ao hospital. Tinha quebrado o ombro ao subir num banco de praça, assustado com um pinscher que cruzou seu caminho. O cachorro nem chegou a esbravejar estridentemente, como é de costume da raça; bastou existir para que Amaro escorregasse de pavor. “Ele morre de medo de cachorro”, ri o filho. Flávio se descreve como um “velho no corpo de um jovem”. Caseiro, avesso a festas, prefere a rotina de chegar do trabalho, fechar a porta do quarto e assistir a filmes de terror. As bandas de que gosta — Raul Seixas, Metallica, Scorpions — poderiam estar num som automotivo dos anos 90. A série favorita, porém, é um fenômeno recente: contava os dias para a próxima temporada de Stranger Things. De todos os irmãos, é o que mais dorme cedo. O que menos sai. O que tem um gato. O gosto pelo Corinthians, bom, esse ele divide com todos os outros. Todas essas histórias, Flávio contou ao g1 enquanto médicos operavam seu cérebro. Naquela manhã, no centro cirúrgico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ele passava pela terceira remoção de um glioblastoma — o tumor cerebral mais agressivo conhecido, um tipo de câncer que nasce nas células gliais e avança pelo cérebro como névoa infiltrada na matéria. É raro, traiçoeiro e reincidente. No caso dele, voltou duas vezes em menos de dois anos. A equipe sabia que a lesão crescia perigosamente próxima às áreas responsáveis pela linguagem e pelos movimentos do braço e da perna direita. Sabia, também, que não há margens de segurança no cérebro: retirar demais compromete a fala, a marcha, a identidade; retirar de menos antecipa a próxima recidiva. É o equilíbrio mais delicado da neurocirurgia. Por isso, a decisão: operar acordado, seguindo cada resposta do paciente como um mapa vivo. Antes de entrar na sala, Flávio assinou o termo que permitia que o g1 acompanhasse e registrasse o procedimento. Talyta Vespa/g1 Sem pressa Dez pessoas se organizaram ao redor da mesa cirúrgica — anestesista, enfermeiros, instrumentadoras, neurofisiologista, neuropsicóloga, residentes e o neurocirurgião Helder Picarelli, responsável pelo caso. Antes de rasparem a cabeça e começarem a higienização, Picarelli se respaldou no humor para quebrar a rigidez da sala: avisou que mexeria no cérebro de Flávio para transformá-lo de corintiano em palmeirense. A neurofisiologista Jessie Medeiros, também corintiana, protestou. “Não vou deixá-lo fazer isso, Flávio”. Todos riram. A cena mínima, quase deslocada do contexto, cumpriu o papel de lembrar que, por trás dos monitores e das luzes frias, havia ali um garoto de 24 anos tentando se equilibrar entre medo e obediência. Entrou na sala sonolento, enquanto a equipe posicionava o neuronavegador — um aparelho em forma de caneta que mapeia, ponto a ponto, a anatomia exibida na ressonância 3D. Na tela à frente da maca, a imagem contrastada mostrava o tumor como um bloco irregular embutido na profundidade do hemisfério esquerdo. Três horas se passaram entre marcações, sedação inicial e montagem dos equipamentos que monitorariam cada contração muscular. E então o crânio foi aberto. Quando o osso cedeu e o cérebro apareceu sob o microscópio, projetado em tempo real na tela da sala, o sedativo começou a ser reduzido. Flávio despertava devagar, num sono que imitava o fisiológico: respondia quando chamado; adormecia quando deixado em silêncio. A neuropsicóloga o chamava pelo nome, confirmava data de nascimento, perguntava onde morava. Ele dizia Guarulhos. Dizia que tinha visto A Freira. Que gostava de Riverdale. Que esperava ansioso a próxima temporada de Stranger Things. Nada disso era conversa solta. Eram checkpoints — provas contínuas de que a linguagem seguia íntegra, de que o raciocínio encadeava, de que a memória recuperava palavras sem tropeço. No centro da sala, cada resposta correta era um território seguro. Cada hesitação, um possível aviso. Enquanto falava, Flávio mexia os dedos, fechava a mão, esticava o pé, levantava a perna. A neurofisiologista observava o monitor, onde pequenas ondas elétricas surgiam quando regiões específicas do córtex eram estimuladas. Com o neuroestimulador — uma sonda fina que libera pulsos elétricos — Picarelli tocava áreas motoras, esperando que a mão contraísse, que o bíceps reagisse, que a perna acelerasse. Era um sistema de segurança de tudo ou nada: se o músculo não respondia, algo estava errado. A cada avanço no tumor, o processo se repetia: braço, mão, perna, fala, desenhos, contagem. O tumor era retirado por partes, interrompendo sempre que necessário para confirmar se o cérebro continuava ali — inteiro, funcionando, reconhecendo, nomeando. Neurocirurgia no paciente Flavio Amaro Talyta Vespa/g1 A difícil remoção de um glioblastoma O glioblastoma não se comporta como um nódulo sólido que se destaca do tecido; infiltra-se como um véu difuso e precisa ser removido em fragmentos, um recorte por vez, seguindo as bordas irregulares que se escondem entre as dobras profundas do cérebro. A neuropsicóloga mostrava figuras que Flávio precisava identificar. Ele acertava todas. No pé, fazia o movimento de “acelerar”. No braço, levantava devagar. No rosto, lutava contra o sono profundo que insistia em puxá-lo para baixo. “Flávio, está com sono? Preciso de você acordado, essa parte é importante”, pedia Picarelli. As médicas chamavam seu nome sempre que a sedação se aproximava do limite aceitável. Em certo momento, disse que a cabeça doía exatamente onde o cirurgião mexia. A dor não vinha do tecido cerebral — esse não dói —, mas da membrana profunda, enervada, que reage ao toque e à coagulação. Anestésico demais naquela área seria tóxico para o próprio cérebro. Foi preciso ajustar sedação e analgesia, explica Picarelli, como quem regula a tensão de um fio. O neurocirurgião avançava devagar, sempre a milímetros das regiões mais críticas. A equipe seguia o monitor com atenção contínua: qualquer alteração nas ondas captadas pelos eletrodos distribuídos em músculos do braço, do antebraço, da perna ou do pé poderia indicar que o estímulo elétrico havia tocado fibras motoras que precisavam ser preservadas. Tudo seguia responsivo. A retirada levou cerca de cinco horas. Quando a última porção foi separada do tecido saudável, a sala ficou silenciosa — uma suspensão breve, quase instintiva, mas comum em cirurgias em que cada milímetro define um desfecho. No neuronavegador, a reconstrução tridimensional confirmava o que Picarelli via pelo microscópio: toda a porção visível do glioblastoma havia sido removida. Flávio seguia acordado. Cansado, mas presente. O braço levantava quando solicitado; o pé acelerava no ritmo pedido; a fala seguia firme. No Teste de Nomeação de Boston — uma sequência de figuras apresentadas em cartões para avaliar a capacidade de recuperar palavras — ele havia acertado todas as imagens mostradas durante o procedimento. Com esses parâmetros estáveis, a equipe pôde aprofundar a sedação para o fechamento. O fim é o começo “A cirurgia não acabou; na verdade, começou agora”, explicou Picarelli. Ele se refere ao pós-operatório imediato, onde o risco ainda existe: sangramentos tardios, edema cerebral, infecções, alterações de pressão intracraniana, convulsões. Nas primeiras horas, Flávio seria monitorado pela enfermagem e pela neurocirurgia para sinais de força preservada, simetria facial, compreensão de comandos simples e estabilidade hemodinâmica. Naquela tarde, se não houvesse intercorrências, ele acordaria bem. Teria alta em dois dias, com a recomendação de retorno em dez para retirada dos pontos e avaliação da cicatrização. Como é padrão no tratamento de glioblastomas, a etapa seguinte deve incluir ajuste da quimioterapia — ele estava no terceiro ciclo quando a recidiva surgiu — e discussão sobre possibilidade de reirradiação ou outras terapias adjuvantes. O prognóstico, como em todos os glioblastomas, depende do intervalo até a próxima recidiva, da resposta aos ciclos seguintes e da manutenção das funções neurológicas. A cirurgia acordada cumpriu exatamente essa meta: preservar a linguagem, o movimento e a autonomia. Flávio deixou o hospital com tudo isso intacto. Naquele centro cirúrgico, o essencial foi garantido: avançar o máximo possível sobre o glioblastoma sem ultrapassar o limite que custaria autonomia. Continuava capaz de levantar o braço, esticar a perna, reconhecer figuras, nomear objetos, lembrar datas, contar de um a dez. Continuava apto a voltar para Guarulhos, dividir o teto com o pai e com Clebson, escutar Metallica no quarto e esperar a próxima temporada de Stranger Things. O restante agora corre fora da sala, no tempo lento da oncologia.

