TERMÔMETRO DA COP30 #DIA 9
O ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Carsten Schneider, disse na segunda-feira (17/11) que o Brasil é "um país maravilhoso" e lamentou não poder ficar mais tempo após a COP — a conferência da ONU sobre mudanças climáticas que está sendo realizada em Belém.
As declarações foram publicadas pelo ministro no mesmo dia em que repercutiram falas do chanceler alemão (cargo equivalente ao de primeiro-ministro), Friedrich Merz, em que ele comparou de forma depreciativa o Brasil com a Alemanha.
Ministro alemão do Meio Ambiente, Carsten Schneider, publicou elogios a Belém em sua conta no Instagram
Instagram/Carsten Schneider
Em um discurso realizado no Congresso Alemão do Comércio na semana passada, no dia 13 de novembro, Merz disse que seu país era um dos "mais bonitos do mundo" e que todos os jornalistas alemães que estiveram na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, ficaram felizes de ir embora da cidade.
"Senhoras e senhores, nós vivemos em um dos países mais bonitos do mundo. Perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil na semana passada: 'Quem de vocês gostaria de ficar aqui?' Ninguém levantou a mão. Todos ficaram contentes por termos retornado à Alemanha, a noite de sexta para sábado, especialmente daquele lugar onde estávamos."
As falas de Merz repercutiram esta semana no Brasil.
Na segunda-feira, o ministro alemão do Meio Ambiente publicou na sua conta no Instagram uma foto em que aparece pescando na Amazônia.
Na imagem, Carsten Schneider destaca sua fala, em português: "Brasil é um país maravilhoso, com um povo acolhedor e bom anfitrião. Pena que não poderei ficar mais tempo após a COP. Teria algumas ideias, por exemplo, pescar com os meus amigos da Amazônia". Essa declaração aparece em alemão no texto da postagem.
Na segunda-feira, a revista alemã Stern havia destacado em seu site: "O ministro do Meio Ambiente precisa acalmar os ânimos no Brasil após as críticas de Merz".
A Stern destacou uma fala de Schneider que seria, segundo a publicação, um "elogio explícito" a Belém após a fala de Merz: "Durante o fim de semana, tive a oportunidade de ter uma primeira impressão de Belém, esta magnífica cidade, e seus arredores. Vi um enorme comprometimento, pessoas maravilhosas, mas também muita pobreza."
Sobre Belém, a revista afirma que "uma quantia significativa de dinheiro foi investida na cidade para a conferência climática, e muitas construções e reformas foram realizadas em diversos bairros".
"Mesmo assim, casas dilapidadas, ruas esburacadas e cursos d'água poluídos ainda predominam na paisagem urbana em muitas áreas", afirma a reportagem da Stern.
A fala do chanceler Merz foi dada na Alemanha após ele já ter ido embora de Belém.
O discurso em que Merz fala sobre Belém foi transcrito e disponibilizado pelo governo alemão e publicado no site e no canal do YouTube do Congresso Alemão do Comércio, organizado pela Handelsverband Deutschland (HDE), a principal federação do varejo na Alemanha.
Segundo a Deutsche Welle (DW), emissora internacional pública da Alemanha, na ocasião, Merz pedia aos presentes para valorizarem o ambiente comercial próspero e livre da Alemanha.
Na segunda-feira, o prefeito de Belém, Igor Normando (MDB), publicou em suas redes sociais um vídeo chamando de "arrogante e preconceituosa" a fala de Merz.
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), também reagiu à declaração em suas redes.
"Curioso ver quem ajudou a aquecer o planeta estranhar o calor da Amazônia. Um discurso preconceituoso do chanceler alemão", escreveu Barbalho na rede social X (ex-Twitter).
A BBC News Brasil entrou em contato com o porta-voz do chanceler da Alemanha e também com os ministérios das Relações Exteriores e do Meio Ambiente, mas não obteve retorno.
Contribuição da Alemanha a fundo de florestas
Merz esteve na Cúpula dos Líderes em Belém, onde participou de um encontro bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O chanceler anunciou a participação da Alemanha no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês).
"Vamos contribuir com quantia considerável", disse Merz, durante entrevista coletiva.
O valor, contudo, não foi confirmado.
O fundo é uma das apostas do governo brasileiro em relação ao financiamento de ações para o combate às mudanças climáticas. O lançamento oficial do fundo foi feito na última semana e a expectativa do governo é de que ele possa, no longo prazo, arrecadar até US$ 125 bilhões.
Friederich Merz é líder da União Democrata Cristã (CDU), partido da ex-chanceler Angela Merkel, com quem travou disputas no passado.
Ele se tornou chanceler — cargo que chefia o governo no país, similar ao de primeiro-ministro — em maio, após ser eleito em segunda votação.
Na primeira votação, o líder conservador ficou inesperadamente aquém dos números necessários para formar uma maioria no parlamento.
Merz é um conservador social, pró-negócios e de discurso direto. Ele trabalhou como advogado, mas sempre teve interesse na política e foi eleito para o Parlamento Europeu em 1989, aos 33 anos.
Ofuscado por Merkel desde 2002, ele acabou deixando a política, atuou nos conselhos de bancos de investimento e passou a pilotar aviões como um hobby.
Em 2018, ele disputou a liderança do partido, mas perdeu novamente para Merkel e depois para Armin Laschet, que acabou sendo derrotado na eleição alemã de 2021.
Merz então assumiu o comando da CDU e concorreu sob o slogan "Uma Alemanha da qual possamos nos orgulhar novamente".
Durante as eleições, ele prometeu controles permanentes nas fronteiras e regras de asilo mais rígidas para restringir a imigração, além de reduzir impostos e cortar 50 bilhões de euros em gastos com assistência social para reaquecer a economia alemã. Também se comprometeu a reforçar a ajuda à Ucrânia.
Ministro alemão elogia Brasil após crítica de chanceler: 'Pena que não poderei ficar mais tempo'
Escrito em 18/11/2025