Com o fim da COP, estrutura pensada por arquiteto do Rock in Rio começa a ser desmontada e passará por auditoria; veja curiosidades

Escrito em 25/11/2025


Participantes da Cúpula do Clima, na Blue Zone da COP em Belém. Áurea Garcia / TV Liberal A COP 30 terminou no sábado (22). Na mesma noite, começou a desmontagem das zonas Azul e Verde, estruturas temporária montadas no Parque da Cidade, em Belém. O processo vai durar semanas e será acompanhado pelos órgãos responsáveis e por uma auditoria independente. O teto da Blue Zone tinha um revestimento especial, que foi costurado por artesãs paraenses com mais de 100 mil metros de tecido elastano tratado contra fogo. Esse material fazia parte das 64 estruturas modulares do evento. Segundo técnicos, o tratamento evitou que o incêndio do dia 20 de novembro se espalhasse rápido. O incêndio atingiu um pavilhão da Blue Zone, deixou 35 pessoas com intoxicação por fumaça ou com crises de ansiedade. O fogo foi controlado em seis minutos, não houve feridos e a área foi reaberta naquela noite. ANTES E DEPOIS: veja como era e como ficou o pavilhão que pegou fogo na COP 30, em Belém O teto antichamas fazia parte do projeto da COP, criado pelo arquiteto João Uchôa, famoso por obras como Rock in Rio e Cidade do Samba. O g1 falou com Uchôa e com o auditor Paulo Bertolini para entender como o espaço foi planejado e como será avaliado na desmontagem. Uma das maiores estruturas temporárias já erguidas no país Projeto do Parque da Cidade, que abrigou zonas Azul e Verde da COP 30, em Belém. Reprodução A Blue Zone ocupou 300 mil metros quadrados, com salas climatizadas, auditórios e energia temporária. A Green Zone, aberta ao público, tinha mais 50 mil m². Segundo o governo federal, a previsão final de desmontagem para a Green Zone vai até 15 de janeiro. Já para a Blue Zone, a previsão é até fim de fevereiro de 2026. Até 1.200 pessoas trabalharam por dia na montagem. Equipes vieram de vários estados, como Pará, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás, São Paulo e Maranhão. Foi uma operação contínua de logística e instalação elétrica, hidráulica e de climatização. Segundo Uchôa, a estrutura é comparável a grandes festivais internacionais, mas com regras extras de segurança e protocolos da ONU. Quase toda a estrutura era alugada: paredes, pisos, divisórias, climatizadores e cabos. Agora, tudo volta para os fornecedores. Segundo Uchôa, isso evita desperdício. “O desperdício é mínimo porque o material volta para quem montou”. Sistema de esgoto era próprio e tratava parte dos resíduos no local Por causa do grande público, o evento instalou um sistema temporário para pré-tratar o esgoto antes de enviar à rede municipal. A técnica é comum em grandes eventos, mas quase ninguém percebe. "O esgoto, por exemplo, na área da COP passou por um sistema de sacos, no modelo de um sistema holandês que trata todo o esgoto antes de descartar no afluente. Ele passa por um tratamento que tira 50% da impureza e os outros 20% são batidos", explica João. Auditoria de sustentabilidade A COP 30 será auditada pela APCER Brasil, contratada pela Secretaria Extraordinária para a COP 30 (Secop). A análise segue normas internacionais: ISO 20121, que avalia gestão sustentável, e ISO 14068-1, que verifica neutralidade de carbono. A auditoria começou em 4 de novembro, antes da conferência, e termina até quatro semanas após a desmontagem completa. “Quando a gente faz uma avaliação de acordo com a ISO 20121, o que é certificado não é o evento em si, mas o sistema de gestão de sustentabilidade em torno dele. Podem acontecer problemas ou desvios, mas a organização precisa demonstrar que tem processos para identificar e tratar essas ocorrências”, explica Paulo Bertolini. O relatório final vai analisar três pontos: ambiental – resíduos, consumo e impactos social – condições de trabalho e segurança econômico – uso dos recursos e viabilidade Também vai medir emissões de gases de efeito estufa e avaliar como foram compensadas. A APCER já certificou grandes eventos no Brasil, como Rock in Rio, Carnaval do Rio, The Town e Rock The Mountain, que usam estruturas temporárias como as da COP. No exterior, trabalha em eventos como MotoGP e European Le Mans Series. Antes do incêndio, o auditor Paulo Bertolini disse que não poderia adiantar análises sobre pontos criticados, como uso de geradores a diesel, caminhões-pipa para água e falhas de climatização, que levaram a uma carta da ONU ao governo federal. Segundo ele, tudo será avaliado no relatório final, após a desmontagem, seguindo normas internacionais. “O diesel é um dos combustíveis mais poluentes, mas a avaliação precisa considerar o contexto. É preciso verificar se havia alternativas viáveis e, caso não houvesse, como esse impacto foi identificado, quantificado e mitigado. Mitigação não significa eliminar por completo o impacto, e sim demonstrar que ele está sendo gerenciado", explica Bertolini. O incêndio na Blue Zone também será analisado, considerando como os organizadores reagiram. A Polícia Federal do Brasil também conduz uma investigação sobre o incidente. LEIA MAIS: ONU critica governo brasileiro por falhas na estrutura e na segurança da COP30 VÍDEOS: veja todas as notícias do Pará